03.09, 16h58
por Denis Rosenfield
Enquanto o país ainda aplaudia a decisão do STF, recebendo a denúncia do Procurador-Geral da República, indiciando a alta cúpula petista e ministros importantes do governo Lula, o PT e o próprio presidente surpreendem a nação. E para pior.O PT recusa a julgar os seus membros. Para a maioria das tendências partidárias, o resgate moral significaria fazer o jogo das elites e da direita, inviabilizando o programa do próprio partido. Assim apresentada a questão, trata-se de opor a pureza da causa socialista a uma ofensiva dos "neoliberais", que se arvoram indevidamente de éticos. Ou seja, os "crimes" cometidos tornam-se meros "erros" que não necessitam, senão superficialmente, ser corrigidos. Um deputado do PT chegou a declarar que o julgamento do Supremo era uma obra de "ficção". Tal postura mostra bem a grande dificuldade que tem o partido de qualquer auto-crítica e de fazer uma revisão doutrinária. Por sua vez, o apoio de Lula aos réus do mensalão é não somente constrangedor do ponto de vista institucional, quanto perigoso do ponto de vista político. Institucionalmente, ele sinaliza o pouco apreço de Lula por uma decisão tomada pela mais alta Corte do país e mostra a sua conivência com os réus de seu partido e de seu governo. Politicamente, ele procura se colocar acima das leis, como se não fosse o Presidente do país, mas o presidente de um partido que tomou de assalto os cofres e cargos públicos. Sua postura é de nítido sentido autoritário.No fundo, a moral que orienta tais tipos de ação é uma moral bolchevique, segundo a qual os fins justificam os meios. No caso, o fim é a transformação socialista do Brasil, cuja etapa preliminar, no governo Lula, consistiria na captura partidária do Estado, de tal maneira que este passe a realizar esse fim. Neste sentido, o desvio de recursos públicos, o aparelhamento estatal e a corrupção são considerados como meios perfeitamente adequados às finalidades partidárias. Não espanta, pois, que os diferentes indivíduos envolvidos no mensalão não tenham nenhum sentimento de culpa, visto que, no final das contas, não cometeram nenhuma infração moral, na perspectiva deles é claro.Enquanto isto, o Congresso começa com a discussão de um dos temas centrais do encontro, sobre "o socialismo petista". Em vez de enfrentar os problemas de suas próprias práticas, de governo "neoliberal" no terreno econômico, e de apropriação do aparelho de Estado via desvio de recursos públicos, o partido inaugura o seu Congresso propondo uma discussão sobre o conceito de socialismo e as possibilidades, a partir dessas propostas, de sua implantação no Brasil. Isto também é chamado de "acúmulo de forças" para uma mudança socialista futura. Chama particularmente atenção, em todas as propostas, o seu nítido caráter anti-capitalista, como se a democracia e a justiça fossem incompatíveis com esse regime sócio-econômico. As sociedades capitalistas desenvolvidas foram capazes de equacionar os problemas sociais e instauraram um regime de liberdades. As sociedades socialistas, por sua vez, redundaram na pobreza de suas populações, na supressão das liberdades e, mesmo, na aniquilação física de uma parte de suas respectivas populações. E o PT está discutindo o "socialismo"...O presidente do PT, Ricardo Berzoini, reiterou também a sua fé no socialismo, entendido em sua concretização latino-americana. A propósito do socialismo, para não deixar lugar a dúvidas, o presidente do PT, com aplausos entusiastas dos militantes presentes, declarou o seu apoio à ascensão do socialismo na América Latina, o que significa dizer que ele entende por socialismo os regimes de Fidel Castro, Hugo Chávez e Evo Morales. "Pouco antes de iniciar sua fala, Berzoini foi antecedido pelo grito de guerra ‘se cuida, se cuida imperialista, a América Latina vai ser toda socialista’, entoado por grande parte da platéia de delegados e convidados" (site do PT). Eis o que eles almejam para o nosso país.