sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

AFRONTA



17.01, 13h25

por Denis Rosenfield


Afronta é talvez a melhor palavra para nomear a nova invasão da Fazenda Coqueiros (Coqueiros do Sul - RS) pelo MST. Não se trata de um evento qualquer, mas de um episódio que se apresenta em sucessivas etapas, cada uma delas mostrando a mesma natureza arbitrária deste movimento dito social que é, de fato, uma organização política de cunho revolucionário. A invasão em questão é a nona de uma série que parece interminável, exibindo aquela que é a face verdadeira dessa organização. Para um leitor desavisado, poderia parecer uma nova ação de um "movimento social" que busca a justiça social. Um jornal do centro do país, em sua versão digital, anunciou essa ação como sendo uma "ocupação". Nenhuma menção foi feita à existência de um interdito proibitório, às invasões anteriores, a decisões judiciais, nem à própria manifestação do Ouvidor Agrário Nacional, Dr. Gersino Silva, que declarou em alto e bom som que se trata de uma propriedade altamente produtiva, que não pode ser desapropriada para fins da reforma agrária. Mais espantoso ainda foi o fato de que essas "omissões" vieram acompanhadas de declarações emessistas, que simplesmente justificariam essa nova arbitrariedade. A leitura do site do MST lançou, ademais, uma outra luz sobre a forma de atuação dessa organização política. A sua astúcia consiste em manobrar de tal maneira que a opinião pública seja formada segundo a sua perspectiva, baseada em mentiras e deturpações de fatos. O surpreendente nessa confrontação entre o site do MST e a versão digital do jornal em questão residia em que esse último simplesmente reproduziu o que essa organização quis transmitir. O jornalista não se deu nem ao trabalho de averiguar o que estava ocorrendo, satisfazendo-se com seus óculos ideológicos, que só vêem o que essa organização quer que seja visto. Nesta contraposição de visões, algumas ao completo arrepio dos fatos, se joga precisamente a formação da opinião pública e a sustentação que essa dá às próprias decisões políticas.Um outro jornal, também do centro do país, apresentou o fato desde a perspectiva de sua história e de seus antecedentes. Para começar, não caiu na armadilha da "ocupação", mas deu a essa ação o seu verdadeiro nome, a saber, a invasão de uma propriedade alheia. Em seguida, mencionou a existência de um interdito proibitório que proíbe qualquer invasão. Observou igualmente que a propriedade em questão é reconhecida como produtiva pela própria Ouvidoria Agrária Nacional, o que impede que possa ser desapropriada. Quem leu um jornal, ficou com a versão – completamente falsa – da ocupação, quem leu o outro ou os dois pode vislumbrar o que estava realmente acontecendo. O MST tem sido particularmente ardiloso em fazer passar a sua mensagem, sobretudo eficaz para os incautos e para os que vivem em nuvens ideológicas, fazendo do esquerdismo uma profissão de fé.Sabemos que a invasão foi curta, tendo os invasores fugido antes da chegada da Brigada Militar, que faria cumprir a lei. Posteriormente, o MST declarou que a sua ação tinha sido meramente simbólica. Arbitrariedades e atos que tornam pessoas reféns são, então, apresentados como símbolos. Estamos atualmente presenciando como as FARCS tratam os seus reféns em sua luta pela "justiça social", pelo socialismo. O problema consiste no significado deste símbolo.O seu significado consiste no desrespeito completo ao estado de direito. O MST mostra que a lei e as decisões judiciais, para ele, carecem completamente de valor. Assim agindo, essa organização se coloca fora da lei, age como uma organização criminosa, que não necessita prestar contas a ninguém, senão a si mesma e às suas formas de justificação. Socorre-se para isto de jornalistas, intelectuais, professores universitários, igrejas de diferentes confissões e partidos políticos, entre os quais o PT, o PC do B e o PSOL. No caso em questão, a afronta é ainda maior por se tratar de uma propriedade altamente produtiva segundo a própria Ouvidoria Agrária Nacional, normalmente simpática às ações emessistas. Acrescente-se ainda que o alvo maior dessa invasão "simbólica" é o de minar as bases sobre as quais se assentam a democracia representativa e o império das leis: a propriedade privada. O seu objetivo reside em destruí-la para que, em seu lugar, surja a democracia totalitária.

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