sexta-feira, 16 de novembro de 2007

LULA SE DEFINE COMO UM PARASITA DA DEMOCRACIA



15.11, 12h19
por Augusto de Franco


Venho dizendo há bastante tempo que 'Chávez é a nossa chave interpretativa', ou seja, que a Venezuela é um observatório do Brasil de amanhã que está na cabeça de Lula e dos petistas. Muitos acharam um exagero, pois que Brasília não é Caracas, nossa sociedade é mais complexa do que a venezuelana, com instituições mais fortes, classe média mais volumosa, sociedade civil maior e mais ativa e, sobretudo, uma base produtiva mais diversificada e uma economia mais avançada. Sim, tudo isso é verdade, mas não muda o fato de que o que ocorre hoje na ditadura eleitoral venezuelana ajuda a ler o que vai na alma do lulopetismo. Lula ontem se definiu. Ele acredita que democracia é eleição. Ele acredita que democracia é plebiscito. Ele acredita que Chávez tem direito de fazer tudo o que está fazendo porque foi eleito e reeleito e porque convocou muitos plebiscitos. Chávez ampliou seu mandato para 7 anos e assegurou reeleição ilimitada. Mas para Lula isso não é problema: Margareth Tatcher não ficou tantos anos no poder? Segundo nosso presidente, é a mesma coisa.Chávez passou a concentrar todos os poderes em suas mãos: promoverá os militares em graus e hierarquias por ato seu; administrará as reservas monetárias e decidirá sobre a política monetária; acabará com a autonomia do Banco Central e das controladorias estaduais (que ficam agora integradas ao sistema nacional de controle fiscal), designará e removerá os vice-presidentes e governadores estaduais. Ora - diz Lula - e daí? Se o povo venezuelano quer, é democracia! Chávez está suprimindo o direito à informação nos estados de exceção, que não terão mais limite de tempo para viger. Está correto, dirá Lula. O povo venezuelano tem o direito de se proteger. E nós não devemos dar um pio para não desrespeitar a soberania alheia. Chávez está mudando a divisão territorial do país, desvalorizando as constituições estaduais (que passam agora a ser meros estatutos) e criando um "poder popular" composto por conselhos de comunidades, operários, estudantes e camponeses bolivarianos, que passará, na prática, por cima dos governadores e prefeitos eleitos. Nesse novo arcabouço revolucionário, até as Forças Armadas se transformam em corpo bolivariano e antiimperialista. E Chávez ainda poderá criar ou extinguir por decreto, a seu bel prazer, territórios federais. Mas tudo isso, segundo Lula, é a mais perfeita democracia. Como declarou ontem nosso presidente: "Podem criticar o Chávez por qualquer outra coisa. Inventem uma coisa para criticar. Agora, por falta de democracia na Venezuela, não é."A afirmação é gravíssima, maxime se proferida por um chefe de Estado de um país democrático. É um escândalo. É como se os chefes de Estado da Inglaterra ou da França declarassem, antes da Segunda Guerra, que Hitler ou Mussolini eram democratas porque foram eleitos ou tinham amplo apoio popular em seus países. Cabe às nossas instituições democráticas, sobretudo ao Congresso Nacional, interpelar o presidente para que se explique ou desminta o que disse. E peça desculpas à nação, por ter ofendido nossos valores. As oposições, mais uma vez, vão deixar passar em branco? Autoritário entre risinhos, Lula não deixou que os jornalistas retrucassem ante o descalabro de suas afirmações, quando comparou o que faz Chávez com a longa permanência no poder de alguns chefes de governo em regimes parlamentaristas. Disse que tudo é a mesma coisa, dando a entender que no presidencialismo um chefe de Estado pode investir na destruição das instituições e das leis democráticas para se delongar indevidamente no poder - desde, é claro, que o povo aprove. É um absurdo, é claro, mas ele reafirmou isso, com todas as palavras, com todas as letras. Lula sempre defendeu as barbaridades cometidas por Chávez. Chegou a dizer que ele peca por excesso de democracia. Chegou a dizer que a Venezuela (juntamente com seus satélites ideológicos) já avançou mais do que o Brasil. Isso ele declarou, literalmente - pesquisem para confirmar - no Palácio do Planalto, há poucos anos. Sim, Lula é um analfabeto democrático. Já se sabia. Agora está provado. Mas como todos sabemos também que ele é um homem muito esperto, fica a pergunta: por que será que, na contramão da consciência democrática contemporânea, Lula insiste em defender Chávez? Por dois motivos, pelo menos. Em primeiro lugar, como é óbvio, porque está sendo sincero com suas intenções e pretensões. Ele também quer, como Chávez, se delongar no poder. Logo, não pode condenar as manobras realizadas pelo amigo de Caracas. Ele quer - mais do que tudo na vida - ter, como Chávez, o direito de convocar plebiscitos. Logo, ele tem que dizer que plebiscitos são o máximo da democracia, mesmo se convocados para enterrar o Estado democrático de direito. Em segundo lugar, porque Lula sabe que as massas anestesiadas com o assistencialismo do Bolsa Família, os aliados políticos fisiológicos comprados com mensalão e com cargos e verbas públicas e as elites empresariais agraciadas com a "Bolsa-BNDES" e com a "Bolsa-juros", ou são também analfabetas democráticas ou não consideram a democracia um valor. Foi por isso que Lula se sentiu suficientente seguro para cometer mais um horrível atentado verbal à democracia na véspera deste 15 de novembro. E nos brindou com uma declaração em que se define como um manipulador neopopulista capaz de namorar perigosamente com a ditadura. Não, por certo, com as formas clássicas de ditadura, amplamente rejeitadas pela opinião pública mundial, mas com as novas formas de regime autoritário, que usam a democracia contra a democracia, parasitando-a, lançando mão de eleições, plebiscitos e referendos para enfrear o processo de democratização da sociedade e realizar a vontade de um grupo privado de se eternizar no poder, pervertendo a política e derruindo as instituições democráticas. Eis aí o Lula integral, corpo-e-alma: um parasita da democracia. Eis aí o perigo que as oposições não viram (porque, no fundo, também não estão completamente convencidas do valor, dos princípios e do significado estratégico da democracia). Eis aí a ameaça real à democracia que deixamos crescer em nosso país.

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