segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Veterinários e autoridades sanitárias condenam a presença de animais na areia


Está todo mundo louco para cair na água. Cachorro, então, nem se fala. Especialmente aquelas raças que adoram um mergulho, como labrador e cocker. Na praia, você pensa em como ele poderia se esbaldar no mar, brincar com as ondas, correr pela areia. Mas, se costuma descer para o litoral carregando também o bicho, sinto muito: vai ter de se contentar com as caminhadas, de coleira, claro, no calçadão, sem deixar que ele se jogue no mar.Explica-se. Do ponto de vista da saúde pública, leis municipais adotadas por cidades litorâneas proíbem o trânsito de animais domésticos à beira-mar. Pelo lado médico, veterinários são unânimes em afirmar: animais domésticos na praia são um problemão.A começar pelo chamado bicho-geográfico, nome de uma larva de verme encontrada nas fezes de cães e gatos que pode penetrar na pele humana e causar coceira e vermelhidão.A lesão tem um formato sinuoso, daí o nome. "A pessoa coça e acaba levando bactérias para o local lesionado. O que pode levar à infecção", explica a veterinária Maria Paula Martinez Okumura, 32, professora de parasitologia da Uniban. O tratamento humano é feito com pomada, remédio via oral e até gelo-seco, para matar a larva.Pés, pernas e mãos são regiões mais afetadas. A transmissão ocorre principalmente em locais de areia úmida e sombreada, onde essas larvas podem sobreviver por meses, segundo Maria Paula. "Ela penetra na pele humana por 'engano'. O homem se torna um hospedeiro errático, porque a intenção é passar para cães e gatos e continuar o ciclo. Se seu bicho estiver sadio, ele corre o risco de se contaminar tanto pela ingestão como pela penetração cutânea", diz ela.No caso dos pets, a maneira de evitar é a velha e boa prevenção, com a vermifugação regular a cada seis meses, em média.Há ainda outra doença chamada larva migrans visceral, causada por outro parasita, também encontrado nas fezes de animais. A transmissão se dá pela ingestão e afeta, principalmente, crianças. A larva, que permanece dentro do ovo do parasita em locais sombreados e úmidos das praias, vai para o intestino humano e, de lá, cai na corrente sangüínea. Pode provocar febre, aumento do fígado e até perda de visão (parcial ou total).Exames de fezes regulares, a cada seis meses, podem diagnosticar a presença do parasita nos bichos. O tratamento também é feito à base de vermifugação.O leitor consciente e responsável dirá agora: "Mas e eu, que recolho o cocô do meu cão e mantenho suas vacinas em dia? Não posso levá-lo para uma corridinha na praia?" Pois é aí que mora o perigo. Segundo os veterinários, o animal saudável pode não contaminar, mas são grandes as chances de ele ser contaminado pelas larvas que, muito provavelmente, já foram deixadas ali por outros cães.Desidratação e queimaduras - Não bastassem essas doenças, Ana Cláudia Balda, 34, professora de clínica médica da FMU, especialista em dermatologia, alerta para outros problemas que afetam os animais. A umidade, por exemplo, pode resultar em otites fúngicas ou bacterianas em raças de orelhas pendulares, como golden retriever e basset."É importante que o proprietário se informe com o veterinário sobre o uso de algodão parafinado e produtos ceruminolíticos, específicos para limpeza de ouvido de cachorros, que podem prevenir esses problemas", diz.Cães alérgicos podem ter predisposição a infecções fúngicas ou bacterianas na região entre os dedos, afirma Ana Cláudia. E o calor pode provocar desidratação no animal. "Leve na caminhada no calçadão sempre água mineral e ofereça a ele com bastante freqüência. O cão perde calor pela respiração, por isso eles ficam ofegantes durante os períodos mais quentes do ano."A veterinária alerta ainda para casos de queimadura nos coxins -as "almofadinhas" das patas-, em contato com a areia quente.Como se vê, melhor passar vontade. Há motivos suficientes para manter os bichos bem longe das praias.Litoral paulista faz campanha contra cães à beira-mar - As principais cidades do litoral paulista, como Santos, Ubatuba, Guarujá e São Sebastião, onde o trânsito de animais domésticos em praias é proibido por lei municipal, lançaram campanhas no verão para inibir a presença de bichos na areia ou no mar.Durante a temporada, um esquema está montado para informar turistas e moradores sobre os riscos que a presença de animais pode trazer tanto aos banhistas quanto aos pets.Nas praias de São Sebastião, por exemplo, blitze estão sendo feitas nos fins de semana. Lá, a lei é de 1992. Mesmo assim, tanto moradores quanto visitantes costumam desrespeitá-la, segundo a prefeitura. A intenção é conscientizar os donos ou responsáveis pelos animais de que é proibido levá-los à praia ou abandoná-los, o que pode gerar multa de R$ 600. Em caso de reincidência, o animal pode ser apreendido.Em Ubatuba, o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) informa que o tráfego de animais é proibido nas 102 praias do município. O órgão reconhece que não dispõe de funcionários suficientes para fiscalizá-las. Na tentativa de educar a população, folhetos informativos estão sendo distribuídos sobre posse responsável e sobre os riscos de doenças. A multa para o dono de animal encontrado na praia é de R$ 100. Caso o bicho tenha que ser retirado pela equipe do CCZ, são mais R$ 20, fora a taxa de permanência no centro até o cão ser recolhido pelo dono."A regulamentação da utilização das praias cabe aos municípios no que se refere à segurança dos munícipes e às questões de saúde pública", diz o advogado Anis Kfouri Jr., presidente da Comissão de Fiscalização da Qualidade do Serviço Público da OAB-SP.Mas, segundo ele, não é suficiente a publicação da lei no "Diário Oficial". "O ideal é a fixação de placas na orla e a sinalização das praias", diz ele. (Folha Online)

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