MARKETING VIRAL, AUTO-AJUDA PATRIÓTICA, NEUROLINGÜÍSTICA POPULAR E SEXOLOGIA SOCIAL
20.06, 17h51
por Paulo Moura, cientista político.
Há cerca de uns quinze dias atrás recebi um e-mail de um amigo. Ele não é petista; não vota no PT e não gosta do PT. O instinto político falhou-me e deletei o e-mail. Vou, portanto, reproduzir seu conteúdo de memória e de forma sintética. O texto afirmava que o presidente dos EUA não teria renovado as concessões de cerca de meia dúzia de emissoras de rádio e televisão que o criticavam, e que, nem por isso, a mídia estava chamando Bush de ditador, como é tratado o projeto de ditador venezuelano, Hugo Chávez, que fechou o canal RCTV, que lhe fazia oposição.Como se sabe, o principal argumento dos defensores de Chávez no Brasil, dentre os quais o principal é o presidente Lula, para defender a medida autoritária do tiranete como se fosse uma medida democrática, reside na afirmação de que ele agiu rigorosamente dentro da lei, e que o governo Venezuelano tem o direito de não renovar a concessão de canais de TV e rádio. Em tese, isso é verdade.Desmontemos a falácia. Em primeiro lugar, como o mundo inteiro sabe, Adolf Hitler chegou ao poder democraticamente eleito pela maioria do povo alemão e nem por isso era um democrata. Denis Rosenfield já mostrou claramente aqui, outro dia, que o conceito de Democracia não é exclusivamente jurídico, mas também, e talvez, principalmente, político. A obediência às regras democráticas do jogo do poder é um dos aspectos relevantes dos regimes democráticos, mas Democracia é muito mais do que isso. Como sempre pregou a teoria marxista-lenisita de luta pelo poder, e depois dela Hitler e agora Hugo Chávez, e quem sabe o PT, usar a "democracia burguesa" para a luta revolucionária, no preâmbulo da instalação da ditadura do proletariado é comum nas práticas dos autoritários de todas as ideologias.Em segundo lugar, não sei se é verdade, e não interessa saber para efeito do debate aqui proposto, se Bush fechou mesmo as referidas emissoras de rádio e TV. Supondo-se que Bush fechou-as, também não sei se o fez porque às mesmas o estivessem criticando. Se o fez por essa razão merece crítica, pois atentou contra a Democracia, exatamente como faz Chávez, com freqüência diária. Mesmo assim, os contextos políticos em que essa medida foi aplicada por Chávez, e teria sido aplicada por Bush, são inteiramente diferentes. O que, repito, não justificaria a suposta não renovação das concessões das referidas emissoras americanas, se foi feita pelas razões políticas alegadas.No entanto, a importância das emissoras de rádio e TV que o e-mail acusa Bush de ter fechado, para o conjunto das instituições democráticas norte-americanas e para a vigência da Liberdade de Expressão e do Direito à informação do povo daquele país, é infinitamente menor se comparada ao significado do fechamento do principal canal de televisão aberta e de oposição ao governo, em um país de instituições políticas e jurídicas débeis e cultura democrática frágil como as que, comprovadamente, existem na Venezuela de Hugo Chávez.Quaisquer atentados à Liberdade e Democracia, do ponto de vista moral e político, são, igualmente, condenáveis. Mas, as conseqüências políticas do gesto do tiranete venezuelano para o fim da Democracia, e do alegado gesto de Bush, são totalmente diferentes se considerados os seus impactos sobre as Liberdades Democráticas em ambos os países. No entanto, um internauta desinformado ou desprovido de conhecimentos sobre e-mail marketing político, e que não gosta de Bush, mesmo que não simpatize com Chávez, poderia sair por aí denunciando o presidente dos EUA com base numa informação que pode ser mentirosa, e com base num argumento manipulador e fraudulento da opinião pública.Mas não é sobre isso que escrevo hoje.Há cerca de uns dez dias ou menos, recebi um e-mail de uma aluna pelo Webmail do sistema de ensino à distância da Ulbra, no qual estava reproduzida uma carta, supostamente escrita por uma turista holandesa que teria ficado maravilhada com esse paraíso deitado-eternamente-em-berço-esplêndido-ao-som-do-mar-e-à-luz-do-céu-profundo chamado Brasil. A personagem virtual listava enormes problemas sociais, de segurança pública, de corrupção, de meio ambiente e outros tantos existentes nos países europeus, para, em seguida, dizer que não entendia a razão de os brasileiros falarem tão mal de seu maravilhoso país, coisa que não se vê de parte dos cidadãos que vivem mo "inferno" capitalista europeu.Já havia lido asneira similar em e-mails idênticos, mas que reproduziam o mesmo texto atribuído a turistas de outras nacionalidades, em momentos diferentes, e muito antes de Lula virar presidente. Da mesma forma, circula por aí, especialmente em véspera de eleições, um e-mail que afirma que as escolas dos EUA excluem a Amazônia do mapa do Brasil nas aulas de Geografia. Tem gente que acredita.Mas, o que une os dois e-mails?Lula e Duda Mendonça, ou seu preposto, o publicitário João Santana, marqueteiro de Lula. Por que? Porque o primeiro e-mail antes referido eu recebi após Chávez atacar o Congresso Brasileiro em resposta às críticas que recebeu ao fechamento da RCTV. Lula chegou a ensaiar uma defesa do Congresso, mas, depois disso, partiu para a defesa do tiranete venezuelano sob o argumento falacioso da legalidade do ato. E o segundo e-mail eu recebi antes mesmo de Lula fazer aquele discurso da suposta turista holandesa, na qual o presidente, ao lançar o programa de financiamento de pacotes turísticos para aposentados, reproduz o mesmo argumento, além dizer que a primeira vez que voou não quis a refeição de bordo de medo de vomitar. Para alívio de Duda Mendonça, Marta Suplicy, a ministra do turismo sexual de Lula, ao propor que os passageiros fizessem suruba no saguão dos aeroportos para passar o tempo relaxando e gozando enquanto esperam o governo resolver o problema, evitou que o vômito de Lula ocupasse as capas dos jornais do dia seguinte.Mas, auto-ajuda patriótica, neurolingüística popular e sexologia social à parte, o que interessa mesmo aqui é que o governo Lula acaba de cair na rede. Infelizmente, a rede de que falo é a internet. Fique atento e comprove. Lula entrou na era do marketing viral.
Fonte: Saite do Jornalista Diego Casagrande
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